Transtornos Alimentares na Gestação e Associação de Risco ao Autismo e TDAH: O Que as Mães Precisam Saber
Informações importantes sobre como os transtornos alimentares maternos durante a gestação podem influenciar o risco de TDAH e TEA nas crianças e a importância do cuidado durante esse período.

Aviso: Este artigo é apenas informativo e não representa uma recomendação de tratamento.
Olá, prezados leitores do Neuroverso! Neste artigo, abordaremos um estudo recentemente publicado na renomada revista JAMA Network Open, intitulado “Análise dos Transtornos do Neurodesenvolvimento em Descendentes de Mães com Transtornos Alimentares na Suécia” e conduzido por uma equipe de pesquisadores suecos liderada por Ängla Mantel¹.
O objetivo deste estudo foi investigar a possível associação entre transtornos alimentares maternos e o risco de transtornos neuropsiquiátricos em seus filhos. Os transtornos alimentares são condições psiquiátricas que afetam predominantemente mulheres em idade reprodutiva, podendo acarretar consequências negativas tanto para a saúde materna quanto para a saúde fetal. Alguns estudos têm sugerido a existência de alterações no neurodesenvolvimento em crianças cujas mães apresentaram transtornos alimentares. No entanto, ainda há escassez de evidências sobre o risco dessas crianças desenvolverem transtorno do espectro autista (TEA) e transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH).
Para abordar essa questão, os pesquisadores utilizaram o Registro Sueco de Nascimentos Médicos e selecionaram 52.878 crianças nascidas entre os anos de 1990 e 2012. Dentre essas crianças, 8.813 foram expostas a mães com diagnóstico de transtorno alimentar (anorexia nervosa, bulimia nervosa ou transtorno alimentar não especificado), enquanto outras 44.065 crianças foram selecionadas como grupo comparador, tendo mães sem histórico de transtorno alimentar. O acompanhamento das crianças ocorreu a partir de 1 ano de idade para avaliar o desenvolvimento de TEA e a partir dos 3 anos para avaliar o TDAH, por meio dos registros nacionais de saúde.
Os resultados obtidos demonstraram uma associação entre a exposição materna aos transtornos alimentares e um aumento do risco de desenvolvimento de TDAH e TEA na prole, independentemente do tipo específico de transtorno alimentar. A tabela abaixo apresenta os riscos relativos (RR) ajustados para cada tipo de exposição materna em relação ao grupo comparador:
Exposição materna | RR para TDAH | RR para TEA |
Anorexia nervosa | 1,42 (1,23-1,63) | 2,04 (1,58-2,63) |
Bulimia nervosa | 1,91 (1,43-2,54) | 2,70 (1,68-4,32) |
Transtorno alimentar não especificado | 2,00 (1,72-2,32) | 1,95 (1,49-2,54) |
O Risco Relativo (RR) é uma medida estatística amplamente utilizada em estudos epidemiológicos para comparar o risco de um determinado evento, como o desenvolvimento de uma doença, entre dois grupos distintos. No contexto do artigo anteriormente mencionado, o RR foi empregado para avaliar a associação entre transtornos alimentares maternos e o risco de transtornos neuropsiquiátricos na prole.
O cálculo do RR é realizado por meio da divisão da incidência do evento no grupo exposto, no caso, filhos de mães com transtornos alimentares, pela incidência do evento no grupo não exposto, isto é, filhos de mães sem transtornos alimentares. Essa medida estatística fornece uma estimativa do quanto a exposição ao transtorno alimentar materno pode influenciar o risco de desenvolver os transtornos neuropsiquiátricos investigados.
O valor do RR pode variar em uma escala contínua. Um RR igual a 1 indica que não há diferença significativa no risco entre os grupos comparados. Já um RR maior que 1 indica que o grupo exposto apresenta um risco maior em relação ao grupo não exposto. Por exemplo, nesse estudo, o RR ajustado para TDAH em filhos de mães com anorexia nervosa foi de 1,42, o que indica um risco 42% maior de desenvolvimento de TDAH nessas crianças quando comparadas ao grupo de controle.
É essencial destacar que o RR é uma medida de associação e não estabelece uma relação causal direta. Ele indica a existência de uma relação da exposição investigada e o evento em questão, porém, não fornece evidências conclusivas de que a exposição seja a causa do evento.
Desta feita, os pesquisadores sugerem que os mecanismos subjacentes a essa associação podem envolver alterações hormonais, nutricionais e epigenéticas que afetam o desenvolvimento cerebral fetal.
Os resultados desse estudo permitem concluir que crianças nascidas de mães com transtornos alimentares, especialmente quando ativos durante a gestação, apresentam maior risco de desenvolver TDAH e TEA. Diante dessas evidências, ressalta-se a importância do monitoramento adequado do estado nutricional e psicológico das gestantes com transtornos alimentares, além da oferta de suporte adequado para prevenir ou minimizar possíveis impactos negativos na saúde mental da prole.
Esperamos que este artigo tenha fornecido informações relevantes sobre o tema e contribuído para a compreensão da associação entre transtornos alimentares maternos e transtornos neuropsiquiátricos na prole. Caso desejem ler o artigo completo, o mesmo está disponível no seguinte link: [https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2021.43947].
Agradecemos sua leitura e até a próxima!
Referência:
- Mantel, Ä., et al. (2023). Analysis of Neurodevelopmental Disorders in Offspring of Mothers With Eating Disorders in Sweden. JAMA Network Open, 4(7), e22208123. DOI: 10.1001/jamanetworkopen.2022.208123.