O Papel do Microbioma Intestinal no Transtorno do Espectro do Autismo: Evidências Atuais e Perspectivas Futuras

Discutimos aqui o papel do microbioma intestinal no transtorno do espectro do autismo (TEA), destacando diferenças na composição e função entre indivíduos com TEA e neurotípicos. Avaliamos também, possíveis mecanismos de influência do microbioma no TEA e intervenções terapêuticas baseadas na modulação do microbioma.

Neste artigo apresentamos uma revisão acadêmica do estudo intitulado “The role of the gut microbiota in autism spectrum disorder: current evidence and future perspectives”, publicado na revista Translational Psychiatry em julho de 2021 pelos pesquisadores Shuwen Qian, Yanyan Li, Jie Zhang e Peng Zheng, da prestigiosa Universidade de Zhejiang, na China.

O objetivo principal deste estudo foi examinar as evidências disponíveis sobre a relação do microbioma intestinal e o transtorno do espectro do autismo (TEA) e discutir as perspectivas futuras para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas inovadoras baseadas na modulação do microbioma. Os autores começaram sua análise fornecendo uma introdução abrangente ao conceito de microbioma intestinal, que compreende a comunidade de micro-organismos que habitam o trato gastrointestinal humano e desempenham um papel fundamental tanto na saúde quanto na doença. Foi explicado que o microbioma intestinal pode interagir com o sistema nervoso central (SNC) por meio de diversos mecanismos, incluindo a produção de metabólitos, a modulação do sistema imunológico, a regulação do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA) e a influência no comportamento. Além disso, mencionaram-se fatores que podem afetar o microbioma intestinal, como dieta, uso de antibióticos, tipo de parto, aleitamento materno e estresse.

Em seguida, os autores analisaram minuciosamente as evidências que demonstram alterações no microbioma intestinal em indivíduos com TEA, em comparação com indivíduos neurotípicos ou com outros transtornos neuropsiquiátricos. Vários estudos foram citados para ilustrar as diferenças na composição, diversidade e função do microbioma intestinal entre esses grupos, bem como nas concentrações de metabólitos específicos derivados do microbioma, como ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), ácidos biliares e neurotransmissores. Vale ressaltar que os autores também destacaram as limitações dos estudos existentes, como o tamanho reduzido das amostras, a heterogeneidade dos critérios diagnósticos, e a variabilidade dos métodos analíticos empregados.

Em seguida, os autores discutiram minuciosamente os possíveis mecanismos pelos quais o microbioma intestinal pode influenciar o desenvolvimento e a manifestação do TEA. Eles propuseram que o microbioma intestinal pode afetar o SNC por meio da liberação de metabólitos que podem atravessar a barreira hematoencefálica ou ativar receptores periféricos, bem como por meio da modulação da resposta imune e inflamatória, que pode alterar a neurogênese e a sinaptogênese, da regulação do eixo HPA, que pode afetar o estresse e a ansiedade, e da influência no comportamento social e na comunicação, por meio da liberação de neurotransmissores ou hormônios. Além disso, sugeriram que o SNC pode afetar o microbioma intestinal ao alterar a motilidade gastrointestinal, a secreção de muco e enzimas digestivas, a liberação de neurotransmissores ou hormônios que podem modificar o crescimento ou a atividade dos micro-organismos e a modulação do sistema nervoso entérico, que regula a função intestinal.

Por fim, os autores exploraram as implicações clínicas potenciais da relação entre o microbioma intestinal e o TEA. Eles revisaram as evidências relacionadas a intervenções baseadas na modulação do microbioma intestinal para melhorar os sintomas do TEA, como o uso de probióticos, prebióticos, simbióticos, transplante fecal, dietas específicas e antibióticos. Ademais, apontaram os desafios e as perspectivas para o desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas baseadas no microbioma intestinal para o TEA, incluindo a identificação de biomarcadores específicos, a seleção adequada de cepas probióticas, a padronização de protocolos de intervenção, a avaliação dos potenciais efeitos adversos e a consideração das diferenças individuais.

Em conclusão, os autores afirmaram que este estudo proporcionou uma visão geral abrangente e atualizada do papel do microbioma intestinal no TEA, destacando as evidências existentes e as lacunas de conhecimento. Foi enfatizado que o microbioma intestinal representa um alvo terapêutico promissor para o TEA, embora sejam necessários mais estudos para elucidar os mecanismos envolvidos e otimizar as intervenções baseadas no microbioma intestinal.

O artigo fornecido pelos pesquisadores Qian, Li, Zhang e Zheng é uma leitura fundamental para aqueles interessados nessa área de estudo em rápida evolução.

Referência: Qian, S., Li, Y., Zhang, J., & Zheng, P. (2021). The role of the gut microbiota in autism spectrum disorder: current evidence and future perspectives. Translational Psychiatry, 11(1), 482.

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